Luiza E Raoni - Como contar essa história?
Geralmente escrevo com uma xícara de café ao lado, ouvindo algo que relaxe e .... bem mas não hoje!
A Luíza não entrou em minha vida trazendo calmaria então que o “tintú tintú” ressoe e as luzes pisquem enquanto eu pareço um ET escrevendo em um pub de Balham(risos).
Essa introdução descontruída até que combina com o lance do primeiro esbarrão da Luíza e do Raoni que foi naquela tal festa em que ele a enquadrou em uma das paredes da vida e não a deixou sair enquanto não o beijasse, pois bem, com esta cena Hollywoodiana rock and roll imaginamos a cena lenta da “luz dos olhos teus e a luz dos olhos meus” se cruzando e a melodia de Tom Jobim inundando este cenário caótico do cala a boca e me beija kkk.
Minha missão aqui não é te confundir, caros serzinhos, mas sim; conduzi-los através desta visão tele-novelesca, ops fotográfica, como afinal de conta ele, ela e todos nós juntos e misturados acabaremos no altar dia 08 de Junho de 2019.
Let’s go: Eu sei que pode soar confuso a fotógrafa do casório estar escrevendo ao invés de fotografar, não se deixe enganar vou fotografar também, mas antes de pegar a câmera preciso desenhar as cenas na mente tecendo o sentido da imagem, o que nos leva ao processo de interagir para comunicar. Ao conversar com a Luiza percebi sermos exatamente o que cada uma precisava; ela de um profissional comprometido e visionário e eu de uma desculpa para ir ao Brasil. Nosso enlace foi inevitável, já saímos da reunião com a passagem compra e os anéis de compromisso no dedo (kkk).
Vamos ao que interessa; o que geralmente os envolvidos ( sejam amigos, profissionais ou alguns familiares) ignoram são as entrelinhas que expressam as verdades de um pedido e um aceito; confesso que é exatamente neste terreno que me fascino pelo universo dos casórios. Eu sei o que você está pensando: lá vem a Jordana com este papo de vendedor em que vamos contar a sua história através da fotografia e bla bla bla, mas interrompa a leitura por aqui, pegue uma coca com chocolate, uma taça de vinho ou o que tiver na geladeira e corre de volta para me acompanhar neste processo de ressignificar as coisas.
Quando falo sobre essência de uma relação estou me referindo a tudo que a envolve, claro que saber sobre o primeiro beijo, quando as borboletas surgiram e como o pedido foi um conto de fadas, é precioso, contudo não é o primordial; o que torna cada história singular são as mazelas, as falhas e como o casal superou a dureza que é amar a humanidade um do outro até chegarem ao “quer casar comigo?”. Nesta esfera estabeleço a nossa relação. Talvez você esteja um pouquinho chocado e pensando como isso pode ser transformado em boas fotografias, se é este o caso, ufa, estamos sintonizados, continue comigo.
Vocês lembram do filme “ Licença para casar?” , pois bem, o princípio é o mesmo, trabalhe os problemas da relação e terá um pedido e um aceito genuíno, maduro o suficiente para ultrapassar os dias sem poesia, que a propósito são a maioria.
Cientes disto, a Luiza e o Raoni embarcaram comigo nesta empreitada, jogaram limpo me deixando em êxtase com aquela história incrível da paixão reprimida aos 18 porque ele tinha um sonho concreto o suficiente para sufocar sentimentos juvenis. Alucinei com o reencontro anos depois em uma baladinha de rua na Av. Goiás que me lembra os bares boêmios em que imagino Vinicius de Moraes compondo “ Tomara” , depois o processo de encontros e desencontros do te quero mas não te pego, do te provoco mas sou para casar e enfim a tão paradisíaca viagem sem destino e data de retorno Caetaneando o “ caminhando contra o vento.... nos caracóis de seus cabelos” , após suspiros e o por favor me diga que este é o fim, vieram as informações dos dias árduos e mais um término. PUTZ, eles já tinham caminhado tanto, já haviam história para 30 ensaios. Ela havia sido suporte para que ele conquistasse a profissão dos sonhos, ele havia pagado o preço de apoia-la em seus concursos... enfim agora era a hora de um pedido de casório, a compra de cachorro ou papagaio e bora planejar logo os filhos para não perder o embalo (risos), mas não foi bem assim que as coisas aconteceram....
O que gosto deste método de leitura de histórias, é que ele tem a imprevisibilidade que só a realidade tem. Ela, a realidade, não possue a lógica que fantasiamos e foi assim que encarei a notícia de mais este término da Luiza e do Raoni. Conscientes de que haviam experimentado o ápice de uma paixão reprimida se viram relocando este sentimento outrora inatingível à uma vida a dois fadada ao medo de um porvir morno ou sem futuro. Assim, o caminho da separação foi sábio deixando-os sozinhos com seus fantasmas enquanto encaravam suas feiuras no espelho. A Luiza foi se reconhecer, o Raoni foi se experimentar, e separados tiveram a oportunidade de diagnosticarem que a racionalidade com que se amavam era irresistível e que estavam prontos para perdoarem o que fosse necessário.
Wow, amazing! Sem chance um desfecho mais harmonioso do que este, sem fogos de artifícios eles voltaram, uma vez mais superaram os limites colocados e o Raoni finalmente fêz o pedido dos sonhos entre os seus familiares.
Pronto agora é o fim?! Bem...sim e não, risos. Eu havia ouvido o suficiente para termos um roteiro almático e peculiar mas quando partimos para os nossos intensos 5 dias foi a minha vez de encarar as feiuras no espelho. Aqui está o lado árduo do meu trabalho, para interagir é preciso também se despir e neste ato não existem meias verdades.
Comprometida em conseguir as melhores fotos que eles poderiam ter, começamos nosso ensaio na Itália, primeiro dia exaustos após o desembarque, eu indo de Londres e eles vindo do Brasil, fotografamos em Milão e fomos surpreendidos com a mochila da Luiza furtada com a MAIOR parte de sua produção para fotos dentro, detalhe, um dia antes do niver do Raoni. Okay, eles foram guerreiros ressignificando a situação enquanto envelhecíamos o cara pálida do Raoni na estrada e fotografando em Florença. O Alexandre e a Hadassa se juntaram a nós em Roma, ali tivemos um tempo tão precioso juntos que é difícil descrever. Então, no último dia encaramos a locação mais esperada; ASSIS, eu sabia do valor deste dia para a Luiza e o meu conteúdo já estava extenso tanto quanto este texto. Determinada a fazer poucos cliques para o desfecho, me surpreendi ao colocar os pés na gruta de São Francisco...sem motivo, aviso ou coerência eu chorava compulsivamente, o ar entrava rasgando meu peito e eu olhava para os movimentos, a história dos noivos e tudo que havíamos vivido com um respeito e amor desmedido. Sim, eu estava sendo resgatada, saí do Brasil convicta de que não voltaria a fotografar noivas, que o preço era alto demais e que os machucados da profissão eram a minha herança, mas ali naquele momento conseguia ouvir os passos mansos, o toque gentil e a voz suave que me dizia estar tudo bem e que eu poderia dar um passo adiante, que aquele terreno não era areia movediça e que eu não iria só. Me permiti sentir a dor seguida do alívio de uma ferida tratada e me entreguei uma vez mais a uma noiva que cortesmente ensinou o meu vínculo com as estações da lua.
Resumindo: A beleza destas fotos que estão vendo não são as paisagens, poses e afins, mas sim a humanidade experimentada de um casal que machucados pela utopia da vida a dois, escolheram cuidar dos curativos um do outro amando-se enquanto uma fotógrafa tão ferida quanto os observava.
Próximo capítulo? Que tal o altar?!
Jordana Barale
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